domingo, 17 de janeiro de 2010

Espiritualidade Angioniana




Espiritualidade Angioniana
No ano de 2006 vivemos o “Ano Angioniano”, entre as atividades desse ano incluiu-se uma reflexão sobre a Espiritualidade Angioniana. Com os estudos realizados pôde-se perceber quatro aspectos diferentes da vida espiritual do Monsenhor Ângelo Angioni. É sobre estes aspectos que se desenvolverá esta meditação: Espiritualidades Mariana, Social, Missionária e Mística.

Espiritualidade Mariana

Nas páginas do livro “Devoções Missionárias” podemos ler:
“Na passagem evangélica de Marcos 6,17-29 se afirma que Herodes tinha, sim, posto na prisão S. João Batista, porém não com intenção de se desfazer dele, ele fazia muitas coisas seguindo os seus conselhos. O que levou Herodes ao delito foi o pedido de Salomé. Como pode acontecer que uma moça conseguiu ter sobre o rei tanto poder?
Ela tinha dançado diante do rei no dia do aniversário dele: ela tinha dançado justamente para ele, para agradar a ele; o rei tinha ficado vidrado com isso”
E quem sobre a face da Terra, algum dia passado, presente ou futuro, dançou, se dedicou, agradou tanto a Deus como Maria Santíssima? Por isso ele não nega atender um pedido dela.
Voltando às páginas do “Devoções Missionárias”:
“Nos séculos em que havia maior fé, os homens tinham o costume de tirar a inspiração para as obras de arte e para os ideais da vida, da contemplação de Nossa Senhora. ‘A arte nos séculos da Renascença – afirma Todesco – nos deu dez mil imagens da Virgem, afrescadas, pintadas, esculpidas’.
E as moças olhavam para a Virgem como ao modelo ideal da feminilidade e procuravam reproduzi-lo em si mesmas.
Os homens do nosso tempo, ao contrário, preferem se amontoar nos cinemas e contemplar as bailarinas de Hollywood [...] Quem terá possibilidade de por uma barreira à lama que terá que submergir o mundo inteiro?
Justamente chegou à metade do século vigésimo o Dogma da Assunção de Nossa Senhora [...]
Numa época em que a idolatria da mulher cresceu até às estrelas, não deverá provocar escândalo uma admiração sem limites para com a Virgem Maria. A “Estrela da manhã”, será que vai ter um número menor de admiradores do que uma estrela de cinema?
A ressurreição de Cristo – Dogma fundamental sobre o qual baseia-se todo o edifício do Cristianismo, coloca a nossa devoção diante de uma pessoa viva: um verdadeiro Deus, porém um homem de carne e osso.
Não deve suscitar maravilha que uma sensação desse tipo suscite entusiasmo no coração. A psicologia feminina é particularmente sensível por isso. “Ipsi sum desponsada” – (“Com ele eu estou casada”) [...]
As mulheres souberam ter como Homem-Deus laços de amor que além de embelezar a austeridade da consagração religiosa, trouxeram os frutos de um entusiasmo, de uma alegria e de uma fecundidade que não podem-se negar [...]
Trata-se de relações espirituais – concordo – porém justamente por isso, devem ser infinitamente mais encantadoras do que as relações vulgarmente materiais.
Relações semelhantes como muito bem se adaptariam à psicologia masculina.
O senhor Mazela, Padre da Missão, apóstolo da Sardenha (1885-1937) teve a ousadia de chamar Nossa Senhora de sua Esposa: “eu tenho uma Esposa cujo amor é casto, cuja mente é divina, cuja dignidade é quase infinita, cuja bondade é inesgotável”. [...]
Sobre essa fecunda união espiritual irá se amoldar a união de quem quiser conquistar o Coração Imaculado de Maria.
Considerar a Virgem como Esposa significa se tornar adultos na devoção se colocar ao lado da Virgem, do seu Divino Filho, se oferecer ao Eterno Pai assim como eles se ofereceram, vítimas para a redenção do gênero humano.
Essa devoção pode causar espanto, mas não deveria afinal desde as primeiras páginas do Evangelho encontramos o exemplo de uma alma virgem – aquela de São José – a qual soube viver com a Mãe de Deus um idílio de amor puramente espiritual.
Uma devoção assim arrojada, não pode ser para todos;”
Talvez só para alguns loucos (loucos aos olhos dos homens, mas sábios aos olhos de Deus).
“Carlos Marx fala das loucuras de alguns Santos católicos; porém o que diriam os marxistas se pudessem ver os seus sistemas desaparecer na maldição e só permanecer como objetos de piadas até o fim dos séculos e isso justamente através daqueles que por amor de Nossa Senhora se dedicarão ao apostolado e até à vida política.
As castas relações espirituais com a Virgem, darão também a possibilidade de ter um amor inesgotável, um encanto sem fim, uma atividade contínua, um entusiasmo sem desânimo, e uma fecundidade que não se esgota.
Os frutos mais bonitos serão alcançados no campo missionário, porque não poderão se contar aqueles, que por amor da Virgem Maria para ter certeza de merecer com estima especial com um ato de coragem, irão fazer o voto missionário no segredo do seu coração. A certeza do amor da Virgem e a sensação experimentada da sua presença irão tornar agradáveis também a sua estadia no deserto mais árido do mundo.
Lendo os diálogos do Monsenhor Ângelo com a Irmã Imaculada Virdis podemos notar algumas características de sua espiritualidade mariana. Nossa Senhora pede principalmente o amor. Esse amor é concretizado com a realização dos Votos tomando ao pé da letra suas fórmulas.
O ponto de partida desta devoção é a consagração pessoal de alma e corpo. Seguirão os votos de:
1. Dom de si: Não se preocupará de mais nada, porque tudo você doou a Mim (Jesus). Eu farei de ti o que gosto de fazer.
2. Paciência: Manter sempre uma doce calma e uma não inalterável paciência.
3. Caridade: Tratar o próximo sempre com amabilidade, doçura, sorriso, encobrir e compadecer seus defeitos.
4. União: A alma se compromete de ficar sempre unida a Jesus, como ao Eterno Pai e ao Espírito Santo, e de pensar sempre nEle.
5. Pobreza: Desapegada de todos os objetos, embora sejam sagrados e dos mais queridos, para ser a alma toda e só de Jesus.
6. Obediência: Obedecer cegamente com presteza, com respeito e com alegria aos superiores, e ao Diretor Espiritual vendo em tudo Jesus que se tornou obediente até à Cruz.
7. Castidade: Manter-se sempre virgem e pura nos pensamentos, nos afetos e nos desejos, nas palavras e nas obras, pela vigilante mortificação dos sentidos e pela oração.
8. Vítima: Aceitar das mãos de Deus todas as provações sem queixar-se e sem rezar de ser libertada. Tudo sofrer para satisfazer a Divina justiça e pela salvação das almas.
9. Reparação: Comprometer-se em cada ação de dar reparação a Jesus por tantos pecados que se cometem no mundo.
10. Humildade: Não só terá que amar as humilhações quando chegarem, mas terá que procurá-las.
11. Passionista: Cuidado especial para se tornar semelhante a Jesus nos seus sofrimentos.
12. Puro Amor: Consiste em sofrer tudo por amor, sem esperar recompensa alguma, ficar indiferente também diante do prêmio do paraíso.
13. Perfeição: Quer dizer que você deve realizar também o mínimo ato da maneira melhor possível. Fiel a este voto, você será fiel com todos os outros.
14. Eucarístico: Deve ter a intenção de enamorar-se da eucaristia. O votos de humildade, de passionista, de perfeição, de puro amor e de castidade são as virtudes necessárias para ser uma alma eucarística.
15. Conformar-se à vontade de Deus: Ser continuamente resignadíssima à vontade de Deus.

Espiritualidade Social

Para ter um roteiro desta exposição convém distribuí-la sobre os seguintes assuntos:
a) A atualidade da dimensão social da espiritualidade cristã.
“A Igreja hoje tem em grande consideração a atuação daqueles que, para servir aos homens dedicam-se à política. [...]
Todos os cristãos devem estar conscientes de sua especial vocação a atuar na vida política. [...]
É preciso dedicar muito cuidado à educação civil e política, hoje tão necessária”. (GS 75)
Estas são citações do Concílio Vaticano II, porém, o primeiro alento sobre este assunto fez o Papa Leão XIII na celebre Encíclica “Rerum Novarum”.

b) Elenco dos escritos de Mons. Ângelo Angioni relacionados ao problema social.
1. Mikael – Os homens (1948)
Neste livro Mons. Ângelo examina estas categorias de homens:
- Os homens que são movidos a fazer o bem por si mesmos;
- Os homens que são induzidos a fazer o bem porque movidos por outros homens, porém sem coação;
- Os homens que para fazer o bem precisam ser obrigados a fazê-lo;
- Os homens que nem pelo uso da força fazem o bem. Fazem o mal por ódio, por convicção.
A obra é convite a reunir todos aqueles que, como leigos, querem consagrar sua vida a difundir no mundo contemporâneo a mensagem de Jesus de acordo com a espiritualidade do leigo. Esta mensagem social é uma maneira de viver a vida como consagração, como vontade de viver o evangelho e viver no ardor da vida o amor fraterno, e é uma tentativa de formar os dirigentes para uma construção da política nacional de acordo com o pensamento cristão.
2. Escritos para a fundação do ramo do IMCIM relacionado às Escolas Artesanais (14 de 11 de 1965 / 22 de 08 de 1967)
3. Mikael = Quem como Deus? (1979)
4. Movimento para o Advento do Reino (1997) (M.A.R.)

c) As características da espiritualidade social Angioniana
Se ele escreveu o que hoje nós possuímos foi só de sua iniciativa pessoal, levado a isso por amor à mensagem evangélica. Isso é traço constitutivo de sua espiritualidade.
A primeira vista intervir nesse campo social parece não ser competência da espiritualidade cristã. Hoje, porém se percebe transformar a realidade social com a força do evangelho, é um desafio para o cristão do terceiro milênio.
A caridade representa o maior mandamento social. Respeita os outros e seus direitos. Esta caridade tem uma dimensão terrena, porém não esgota nas relações humanas e sociais, porque toda sua eficácia deriva da referência a Deus. A espiritualidade social ensinada por Mons. Ângelo leva a tornar ainda maior nosso amor para com Deus. E deu origem a algumas realizações de tipo muito simples e imediato, que até hoje constituem a nossa herança: a realização de várias escolas artesanais e uma atuação no campo vocacional.
Ele falava frequentemente ao seu povo para que entendesse seu ideal: “O Brasil precisa de pão material para vencer a pobreza da fome; porém, existe outra fome: a da Palavra de Deus para a vida da alma. É preciso ter escolas artesanais para ensinar um trabalho, mas é preciso cuidar das vocações sacerdotais a fim de que, como não deve faltar o pão material na mesa de nossas famílias, assim não falte sobre a mesa do altar o Pão Eucarístico e da Palavra de Deus. É preciso cuidar das vocações sacerdotais e religiosas.
Portanto, esta espiritualidade social desemboca na espiritualidade missionária.

Espiritualidade Missionária

Este aspecto da vida interior de Mons. Ângelo Angioni é o mais conhecido, e que sempre ele apresentava por primeiro. De fato o que logo aparecia entre os objetos de seu pequeno e pobre quarto era um crucifixo, o crucifixo do missionário.
Este crucifixo tinha sido entregue a ele no seu Curso para preparação em vista das Missões na América Latina, em 1948, em Roma.
Ele dizia que recebeu o crucifixo das mãos do Papa Pio XII, numa reunião especial reservada aos missionários e, na mesma oportunidade o Papa tinha concedido a todos de adquirir a indulgência plenária quando fizessem beijar este crucifixo. Neste mesmo encontro, ele tinha recebido o envio para a Missão em José Bonifácio. Foi nesta oportunidade que ele foi encarregado, pelos colegas de curso de agradecer ao Papa. Neste discurso teria apresentado as suas idéias acerca do Plano Missionário, e o Papa lhe concedeu também de abençoar as imagens dos santos com um único sinal de cruz. Ele pedia que esse crucifixo fosse colocado junto com ele na sepultura.
Para ele a cidade de José Bonifácio era sua terra de missão. O Instituto por ele fundado devia ser um Instituto Missionário. O bispo diocesano, para ele tinha que descobrir suas raízes missionárias como enviado de Jesus Cristo para a evangelização do mundo todo.
Quando passava as férias na Itália ou fazia algumas viagens no Brasil sempre dizia ao Pe. Cesarino:
“Somos missionários de férias, vamos aproveitar deste tempo para fazer algumas pregações missionárias.”
Aqui transparece sua santidade comparável a de São Cura d’Ars que dizia: “Descanso, só no céu.”
Foi sob a orientação daqueles missionários do PIME e seu reitor - hoje Beato Padre Paulo Manna -, que amoldou sua alma em sintonia com as necessidades missionárias da Igreja.
Podemos resumir as linhas da espiritualidade missionária nos seguintes pontos característicos.
Ela nos convence que ao receber o batismo não fomos jogados numa religião ou numa igreja com o objetivo de curtir a tranqüilidade de nossa salvação. Nosso batismo nos põe em movimento na sede de conquistar almas ao Cristo.
O Instituto Missionário é um espaço que é oferecido aos especialistas da missão.
A missão da Igreja e a nossa, não vem de nós mesmos, mas é uma resposta à Santíssima Trindade que tem como sua natureza íntima a Missão segundo o Plano do Pai, na missão do Filho e do Espírito Santo.
Dessas considerações Mons. Ângelo tira as conseqüências aplicando esses princípios para a valorização na diocese, da figura do Bispo como o missionário que sucede aos apóstolos e não só como coordenador e pastor do rebanho de sua diocese. Todos e cada um dos bispos são responsáveis pela missão.
Dessa espiritualidade é constituída também a missão a participação de todos os membros da Igreja, especialmente dos leigos missionários.
A Igreja não pode ficar satisfeita e parar de evangelizar até que não tiver levado a boa nova a todos os não cristãos sempre em aumento.
O Espírito Santo continua chamando as pessoas para esta missão bem específica, por toda a vida.
A última reflexão sobre a espiritualidade angioniana pode-se resumir com as palavras de Dom Luciano Mendes de Almeida no Centro nacional de formadores em Brasília em 1982: “A força dos Institutos Missionários é exatamente esta: estimular o povo de Deus para que assuma e viva a consciência de sua missionariedade”.
De fato o Monsenhor não deixou a paróquia de José Bonifácio, mas aí formou as elites que num iminente futuro possam abrir uma frente missionária para a Diocese de São José do Rio Preto.

Espiritualidade Mística

A esta altura poderíamos pensar que este enfoque da vida espiritual de Mons. Ângelo Angioni seja algo de exagerado e fora do lugar.
Causa disso é que muitas vezes achamos a mística algo muito longe da via diária de nossa experiência atribuindo essa característica só a alguma experiência de algumas pessoas. Na realidade todos somos chamados à vida mística e é opinião sempre mais comum entre os teólogos que a união mística com Deus, é um chamado dEle para todas as almas, que vivem na graça de Deus e, esta união mística com Ele, seria um elemento sem o qual a vida sobrenatural não alcança aqui na terra seu normal desenvolvimento. Se o número das pessoas que alcançam essa união é muito reduzido, não é por uma falta de atenção (graças) por parte de Deus, mas pelo fato que poucos correspondem plenamente à Graça e querem crescer na vida sobrenatural, sem passar através da dolorida purificação dos sentidos e do espírito; sem esta purificação o homem fica desordenadamente apegado a si mesmo e ao mundo.
Eis que na teologia católica se entende como mística, em primeiro lugar um conhecimento superior, quase experimental, de caráter sobrenatural de Deus que habita na alma em graça.
Deus se faz quase experimentar sensivelmente causando efeitos maravilhosos na alma. Ele aparece como sumamente amável e superior a todos os nossos conhecimentos. Um fervente amor sobre humano, infundido por Deus, fica sempre unido a essa viva percepção de Deus e faz parte da mística. São chamados místicos, certos fenômenos de ordem intelectual e psicofisiológicos que não são essenciais à vida mística, mas que às vezes acompanham a união mística com Deus, e podem ser visões e êxtases, locuções ou palavras sobrenaturais, toques divinos, deliciosos sentimentos espirituais que enriquecem a vontade, irradiações luminosas...
Percorrendo as páginas do diário pessoal deixado por Mons. Ângelo, mais de uma vez, se encontram fenômenos desse tipo, por ele experimentados e documentados.
Quando se estava em diálogo com o Monsenhor frequentemente seu interlocutor tinha a impressão de falar com uma pessoa que estava acostumada a viver em um mundo diferente. Aquela maneira com que de repente enfrentava os problemas e os resolvia, aquelas soluções que pareciam impossíveis, aquela confiança na vontade de Deus, aquela atitude de calma acima dos problemas do dia a dia, suscitavam maravilha, estranheza e interesse como de uma pessoa que estava diretamente e sempre em união com Deus.
É oportuno sintetizar a preocupação do Monsenhor Ângelo Angioni com o encontro íntimo com Deus, sublinhando algumas atitudes que constantemente se encontram em sua vida espiritual.
O desejo de purificar sempre sua alma de todo apego ao pecado e ao mal através da recepção freqüente do sacramento da confissão e a prática da virtude da humildade expressa pela obediência.
“Uma diocese que possuísse um grupo de sacerdotes diocesanos deste tipo poderia criar ‘novas terras e novos céus’, isto é, tomar um território de missão e criar ‘novos céus’, salvar muitas almas; almas que não teriam se salvado sem aquela oblação. E Deus será obrigado a criar novos espaços no céu além daqueles que já planejou.
Como o ‘Fiat’ da criação chamou do nada o universo material, e o ‘Fiat’ da Virgem Santíssima foi a premissa da criação do mundo da Graça e da Redenção, assim o ‘Fiat’ do sacerdote que imola a sua vontade nas mãos do Bispo, colocando-se totalmente à sua disposição, abre novas possibilidades e, dá à Igreja uma força e uma vitalidade que sem aquela imolação, nunca teria conseguido possuir.”

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